No âmbito hospitalar, o que é um plano de contas de resultados? É possível diferenciar honorários médicos fixos e variáveis? Como estruturar os centros de custos, aplicando a técnica de rateio?
Saiba as respostas para estes questionamentos, no trecho a seguir do capítulo escrito por Marcelo Carnielo, Diretor Técnico da Planisa, para o livro DRG Brasil – Transformando o sistema de saúde brasileiro e a vida das pessoas.
A estruturação de um projeto de custos nasce com as chamadas contas de resultados, que se destinam ao registro das despesas, dos custos e das receitas. As contas de resultados possibilitam a apuração e o detalhamento do custo do produto, além do resultado econômico da gestão do patrimônio – que poderá ser lucro ou prejuízo.
Como os projetos de custos hospitalares caminham numa trilha mais gerencial, isso viabiliza o agrupamento ou detalhamento de contas para atender as necessidades operacionais e de gestão da organização. Por exemplo, em hospital oncológico possivelmente será necessário criar uma conta de medicamentos antineoplásicas, ao invés de uma conta única de medicamentos. Em situações normais, as contas são agrupadas ou mais detalhadas, conforme relevância financeira ou necessidade gerencial do hospital.
A seguir, veja um exemplo de plano de contas hospitalar:
(+) Receita SUS
(+) Receita Convênio e Particular
(+) Outras Receitas
As contas relacionadas aos honorários médicos devem corresponder exclusivamente a custos com pagamento de mão-de-obra de colaboradores do ramo, que recebem por meio de prestação de serviços. Não se sugere considerar os colaboradores médicos CLT e/ou RPA, pois estas modalidades possuem contas específicas e com encargos próprios.
Os honorários médicos são divididos de duas formas: fixos e variáveis. Na conta de honorários médicos fixos, devem-se alocar os valores dos contratos dos médicos que recebem valores fixos e que não são contratados em regime CLT. Já na conta de honorários médicos variáveis, deve-se alocar os valores dos médicos que recebem por produção.
Essa divisão é importante para a consolidação do custo unitário dos itens de produção, associado ao modelo de remuneração. Por exemplo, em unidade de Pronto Socorro, normalmente há médico plantonista e especialista; o primeiro tem honorários fixos, enquanto o especialista normalmente possui honorários variáveis. Na composição do resultado do atendimento médico do Pronto Socorro de um determinado atendimento, deve-se observar esta regra de faturamento.
Por fim, deve-se considerar na conta “honorários médicos” apenas valores que representam atividades exclusivas do profissional médico (mão-de-obra), portanto, sem inclusão de medicamentos, equipamentos ou qualquer outro, no valor da prestação de serviços. Quando houver inclusão de medicamentos ou qualquer outro custo no serviço, sugere-se o lançamento na conta serviços médicos PJ fixo ou variável.
Uma das formas mais utilizadas em uma empresa hospitalar é a classificação dos centros de custos produtivos e centros de custos auxiliares e administrativos.
Correspondem aos centros de custos que prestam serviços finais ao paciente e geram receita. Por exemplo: Unidade de Internação, Raios X, Laboratório etc.
Os centros de custos auxiliares correspondem aos setores que prestam serviços de apoio ao paciente, Por exemplo: CME (Central de Material Esterilizado, SND (Serviço de Nutrição e Dietética), Lavanderia. Já os setores administrativos estão relacionados às atividades puramente administrativas, contabilidade, faturamento, entre outras.
O chamado rateio é parte integrante da consolidação dos custos dos serviços a partir da apropriação de custos indiretos e dos rateios interdepartamentais. Ou seja, é a apropriação dos custos dos centros auxiliares e administrativos para os centros produtivos.
Abaixo estão relacionadas algumas sugestões para rateio dos custos indiretos:
Item de Custos | Fórmula de Rateio |
---|---|
Aluguel | Área ocupada (m²) |
Manutenção e conservação | Área ocupada (m²) |
Depreciação | Área ocupada (m²) |
Seguros | Área ocupada (m²) |
Energia Elétrica | Consumo de energia (%) |
Água | Consumo de água (%) |
Telefone | Valor do tarifador |
Impostos e taxas | Número de funcionários ou Área (m²) |
Outros custos e despesas | Número de funcionários |
Nesta etapa, fazemos a transferência dos custos mensurados nos centros de apoio e administrativos para os setores produtivos, com o objetivo de apurar o custo final dos serviços: custo por paciente/dia, custo por exame, custo por hora do centro cirúrgico etc. A razão desta distribuição se deve principalmente ao fato de que os serviços de auxiliares e administrativos não geram receita e são, via de regra, serviços apoiadores em um processo de produção hospitalar.
Uma das formas de se definir o critério de rateio é considerar a “Regra do 1”. Na Regra do 1, pergunta-se: por que este setor tem mais de um funcionário? Ao responder esta pergunta, automaticamente se responde qual seria o melhor critério de distribuição para este setor. Segue um exemplo: Por que o serviço de engenharia clínica tem mais de um funcionário? Uma provável resposta é que o hospital tem uma quantidade de equipamentos eletromédicos suficientemente alta, o que exige mais de um funcionário para conseguir realizar todas as atividades pertinentes à manutenção deles. Portanto, o critério de rateio é este: número de equipamentos eletromédicos por setor.
Uma outra sugestão, normalmente ignorada nos projetos de custos, é: avalie o comportamento dos custos dos setores ou contas indiretas antes de definir o critério de rateio. Estrutura de custos fixos dos setores ou contas sugere-se critérios de rateios também fixos, enquanto componentes variáveis dos setores ou contas, sugere-se critérios variáveis.
Os dados relacionados à estatística de produção são necessários para a apuração do custo unitário dos serviços produzidos pelos centros de custos produtivos do hospital.
Para cada um dos centros de custos produtivos deverá ser identificada uma unidade produzida. Em geral as unidades são definidas da seguinte forma:
Unidades de medida para rateio para setores produtivos
Setor Produtivo | Unidade de Medida para Rateio |
---|---|
Unidade de internação | Diária |
Unidade de terapia intensiva | Diária de UTI |
Centro cirúrgico | Hora de utilização |
Ambulatório | Consulta |
Pronto socorro | Atendimento |
Serviços de diagnóstico | Exames |
Antes de tudo isso, é necessário entender conceitos fundamentais da gestão de custos hospitalares, como custos diretos e indiretos, custos fixos, variáveis, semifixos e semivariáveis. Acesse o artigo “Sistema de gestão de custos hospitalares – entenda os conceitos básicos!” e leia o conteúdo escrito por Marcelo Carnielo, Diretor Técnico da Planisa.
A Planisa, empresa de consultoria de custos e melhoria da produtividade hospitalar com atuação em todo o país, é membro da comunidade de consultorias parceiras da plataforma Valor Saúde Brasil by DRG Brasil.
Créditos/Referências:
Direitos autorais: CC BY-NC-SA
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