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Revista Científica da Faculdade Unimed traz editorial sobre saúde baseada em valor

DRG Brasil
Postado em 5 de novembro de 2020 - Atualizado em 28 de setembro de 2023

Texto de Tania Grillo e Renato Couto mostra como a adoção de uma política de governança estruturada pode ajudar as instituições de saúde a entregar valor aos pacientes e garantir sua perenidade e equilíbrio econômico-financeiro.

Leia na íntegra:

Política de governança e entrega de valor em saúde

A entrega de valor deve ser o propósito dos sistemas de saúde.  Essa é a receita para evitar desperdícios e falhas, que prejudicam a assistência ao paciente e os resultados alcançados pelas instituições do setor. Valor em saúde é determinado pela qualidade assistencial dividida pelo custo, alinhado a uma experiência positivado paciente em sua trajetória no sistema de saúde (1) (2). O inverso de valor, portanto, é desperdício.

Para chegar a um índice positivo, é preciso focar nos 4 alvos assistenciais para aumentar a qualidade e eliminar o desperdício: uso eficiente do leito hospitalar; aumento da segurança assistencial; redução de internações evitáveis; diminuição de readmissões hospitalares não planejadas (3) (4).

As falhas de entrega de valor consomem 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) americano, conforme levantamento de Berwick e Hackbarth. Isso significa que a eliminação de 50% do desperdício do sistema de saúde dos Estados Unidos economizaria 1 trilhão de dólares (5).

Uma assistência adequada à atenção primária e um sistema de emergência resolutivo podem reduzir as chamadas internações por condições sensíveis à atenção primária (ICSAP). Hospitalizações cirúrgicas podem, da mesma forma, ser evitadas.  Um serviço ambulatorial resolutivo integrado a uma transição de cuidados para o domicílio e incentivos econômicos para médicos e hospitais têm demonstrado elevada efetividade na ambulatorização de procedimentos cirúrgicos (3) (4).

No mundo, há ineficiência no uso do leito hospitalar (1). O aumento da permanência, além do esperado pela complexidade clínica, é determinado por falhas no complexo processo assistencial  hospitalar;  pela  burocracia  fútil  nas  relações  entre  hospital  e  operadora,  como  a demora para autorizações; por falhas nas relações com a família e o paciente; pela ausência de recursos extra-hospitalares para continuidade de cuidados; e por problemas jurídicos e sociais (3) (4).

Eventos adversos, que se manifestam ou agravam após a alta e a transição inadequada do cuidado hospitalar para o nível ambulatorial, são capazes de determinar reinternações precoces potencialmente preveníveis.  Por sua vez, a insegurança assistencial hospitalar determina uma pandemia de mortes, sequelas e aumento de custos.  É uma das causas mais frequentes de óbitos nos Estados Unidos (6). No Brasil, em 2017, estima-se que 36.174 falecimentos foram atribuíveis aos eventos adversos graves e consumiram$ 10,6 bilhões na saúde suplementar, de acordo com o II Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil (7).

Para medir o valor entregue pelos sistemas de saúde suplementar e público brasileiro estudamos o banco de dados secundário de todas as altas hospitalares ocorridas no período entre 1º de agosto de 2018 e 31 de julho de 2019 de 129 operadoras de saúde suplementar e SUS, que  cobrem  10,586  milhões  de  vidas  e  que  utilizam  o  software  DRG  Brasil®  para  fins gerenciais (4).  O  estudo  avaliou:  resolutividade  da  atenção  primária;  segurança  assistencial hospitalar; segurança na transição de cuidado do hospital para o domicílio; a eficiência do uso do  leito  hospitalar  O  desperdício  potencialmente  modificável  pela  entrega  de  valor  foi equivalente  a  37,7%  de  todas  as  diárias  hospitalares  consumidas  para  tratar  os  pacientes  da população estudada (4).

Uma política efetiva de governança clínica do sistema de saúde brasileiro baseada na entrega de valor para a sociedade e demais partes interessadas é boa para todos.  O paciente pode ter seus danos físicos e psicológicos, além de seus custos, reduzidos. A sociedade pode garantir mais acesso ao sistema de saúde e aumentar a competitividade de sua economia. Os financiadores do sistema de saúde podem alcançar o triplo objetivo: melhor atendimento aos indivíduos; melhor saúde das populações; menor custo per capita, com preservação dos recursos preciosos para sua sustentabilidade. E, à medida que as organizações prestadoras de serviço de saúde mudam seu foco de volume para valor, a redução do desperdício cria a oportunidade de compartilhamento de recursos com médicos e rede hospitalar (8).

Um sistema de saúde para entrega de valor deve alinhar seu modelo assistencial e remuneratório à segurança, eficácia, eficiência, centralidade do paciente, garantia de acesso oportuno e equitativo. O modelo de governança deve ser baseado na ciência e garantir ao paciente a assistência contínua, personalizada, com transparência para escolhas conscientes.

Para construir um sistema de saúde baseado em valor, é necessário o envolvimento de todas  as  partes  interessadas:  o  Estado,  os  líderes,  as  agências  reguladoras  do  governo,  as parcerias   público-privadas,   as   organizações   de   saúde   (financiadoras   e   prestadoras),   os pesquisadores, as associações profissionais e de clientes, os educadores, a força de trabalho, os pacientes e as famílias (4). O controle do desperdício pela maior entrega de valor pelo sistema de saúde brasileiro poderia mitigar as limitações de acesso à assistência hospitalar, assim como poderia disponibilizar recursos para outras necessidades do sistema de saúde brasileiro. Mais segurança para o paciente, maior acesso ao sistema de saúde pela população, entrega de uma assistência de qualidade a um menor custo para organizações. Esse o propósito.

REFERÊNCIAS

  1. PORTER, M.E. What is value in health care? N Engl J Med, v.363, p.2477-81,2010.
  2. STIEFEL, M.; NOLAN, K. A Guide to Measuring the Triple Aim: Population Health, Experience of Care, and Per Capita Cost. IHI Innovation Series white paper. Cambridge, Massachusetts: Institute for Healthcare Improvement, 2012.
  3. COUTO, R.C.; PEDROSA, T.M.G. Diretrizes para um sistema de saúde baseado em valor. [publicação online]. Valor em Saúde Brasil. [S.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2TwMjLb. Acesso em: 26 set. 2020.
  4. COUTO, R.C.; PEDROSA, T.M.G. Índice de Valor do Sistema de Saúde Brasileiro. Relevância, metodologia e resultados. [publicação online]. Valor em Saúde Brasil. [S.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2TwMjLb. Accesso em: 26 set. 2020.
  5. BERWICK, D.M.; HACKBARTH AD. Eliminating waste in US health care. Journal of the American Medical Association, v.307, n.14, p.1513-1516, 2012.
  6. MAKARY MA, DANIEL M. Medical error -the third leading cause of death in the US. BMJ, v.353, n.2139, p.1-5, 2016.
  7. COUTO RC, PEDROSA TMG, ROBERTO BAD, DAIBERT PB, et al. II Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil. Propondo as Prioridades Nacionais. Belo Horizonte –2018. Disponível em: https://bit.ly/3jyQz7r. Acesso em: 20 julho 2020.
  8. COUTO RC, PEDROSA TMG. Remuneração baseada em valor. Conceitos e métricas. [publicação online]. Valor em Saúde Brasil. [S.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2TwMjLb.Acesso em: 26 set. 2020

Além do editorial, outro artigo, de Bernz et al, analisa a visão do value-based health care (VBHC) para os diferentes atores dos sistemas de saúde do Brasil, como médicos, gestores e representantes da indústria farmacêutica.

ACESSAR REVISTA DA FACULDADE UNIMED

Fonte: Revista Científica da Faculdade Unimed v.2, n.2, out/dez 2020 e-ISSN 2674-709x

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