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Covid-19 no Brasil: situação atual e cenários futuros para o sistema brasileiro de saúde

DRG Brasil
Postado em 23 de abril de 2020 - Atualizado em 23 de outubro de 2023

A Covid-19 tem afetado o sistema de saúde gravemente. Obter informação séria, de qualidade, e saber gerenciar os recursos críticos são ações essenciais para combater a pandemia.

Quer saber mais sobre os impactos da Covid-19?

Publicado por: Australian Brazil Business Council, em 20 de abril de 2020

A pandemia do COVID-19 é sem dúvida um enorme desafio para todos os países do mundo. No entanto, tem impactado os países de diferentes maneiras e graus.

Por exemplo, na Austrália, a curva de infecção pelo vírus já foi achatada, mas ainda não é o caso do Brasil.

Parece que o modo como os países enfrentam a epidemia não depende apenas de sua riqueza, mas também de características culturais e políticas.

O Brasil terá sucesso em lidar com a epidemia COVID-19? Quais são os maiores desafios e possíveis soluções? Qual é a situação atual e o cenário atual?

Para não confiar apenas na imprensa, entrevistei o Dr. Renato Couto, especialista na área.

O Dr. Renato Couto é médico com PhD em doenças infecciosas. Ele é o CEO e fundador do Grupo IAG Saúde, que fornece aos hospitais soluções de gestão tecnológica e planos de saúde no Brasil, e ex-professor associado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A entrevista segue abaixo.

Luiz Carneiro: Quanto à situação COVID-19 no Brasil, no dia 13 de abril de 2020, o Ministério da Saúde do Brasil registrou um total de 22,169 casos, 1.223 mortes e, consequentemente, uma taxa de mortalidade de 5,5%.

Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde do Brasil afirmou que não há um registro de todos os testes realizados no Brasil, portanto, essa informação está faltando.

Os 22.169 casos relatados são provavelmente subestimados. Portanto, surgem as seguintes perguntas:

  1. Qual é a situação atual dos testes COVID-19 no Brasil?
  2. O vírus está se espalhando sob o radar?
  3. Quais testes estão sendo utilizados no Brasil? Testes de RT-PCR ou testes de sorologia? Eles são confiáveis?
  4. Que outras estatísticas poderíamos usar para ter uma melhor imagem da situação?

Dr. Renato Couto: Em relação aos testes sorológicos, eles ainda estão em avaliação, portanto não são uma opção no momento.

O único teste confiável é o teste de RT-PCR realizado na primeira semana após o início dos sintomas.

Após o oitavo dia, há uma chance muito maior de que as pessoas com coronavírus testem negativamente a doença, mesmo quando testadas duas vezes.

Uma das razões pelas quais o coronavírus pode passar despercebido é que os casos mais críticos são admitidos em hospitais entre o quinto dia e o décimo dia após o início dos sintomas, quando a taxa de falso-negativo já é alta.

No Brasil, além dessa desvantagem inerente aos testes de RT-PCR, o enorme atraso no recebimento dos resultados dos testes é consequência não apenas da escassez de suprimentos, mas também de falhas nos processos operacionais.

Para entender melhor a situação atual, a taxa de mortalidade positiva para COVID-19 por 100.000 habitantes é o indicador mais confiável disponível atualmente, dadas as limitações dos testes de RT-PCR.

No entanto, um indicador melhor para o número real de casos de COVID-19 seria a taxa de mortalidade por 100.000 habitantes, na qual o numerador representaria não apenas as mortes positivas para COVID-19, mas também as suspeitas de mortes positivas para COVID-19. Infelizmente, até onde sei, esse indicador não está disponível.

Luiz Carneiro: Alguns especialistas têm argumentado que o teste em massa é uma ferramenta essencial para gerenciar a pandemia do COVID-19. Como o Brasil pode ter uma estratégia segura para enfrentar a crise quando não é capaz de testar adequadamente a população e manter um registro centralizado desses testes?

Dr. Renato Couto: O distanciamento social é a única estratégia segura.

Mesmo com mais testes, ainda haveria muitos resultados falso-negativos. Isso significa que, sem distanciamento social, as pessoas contaminadas que testaram negativo para COVID-19 continuariam espalhando o vírus.

Alguns países que implementaram testes em massa e foram bem-sucedidos no controle da propagação do vírus podem ter atingido esse resultado devido a outros fatores, como fatores culturais e comportamentais.

Não há evidências científicas de que seu sucesso tenha sido devido a testes em massa.

Dada a falta de evidências científicas, essas são apenas opiniões.

Minha opinião é que o teste em massa pode contribuir para a diminuição do distanciamento social, o que é um risco para o controle dessa epidemia.

A taxa de mortalidade positiva para COVID-19 por milhão de pessoas é o indicador mais confiável disponível, de acordo com o Dr. Renato Couto.

Luiz Carneiro: Mas mesmo sem testes em massa, ainda são necessários testes. Qual é a situação da infraestrutura no Brasil no momento?

Dr. Renato Couto: o teste RT-PCR requer equipamentos mais sofisticados do que outros testes. Os materiais e equipamentos necessários são escassos e requerem pessoal altamente qualificado. Esses recursos não estão prontamente disponíveis no Brasil, portanto, ter mais dinheiro não ajudará necessariamente.

O setor de saúde privado não desenvolveu uma infraestrutura apropriada para o teste de RT-PCR porque não era rentável.

Uma solução viável iniciada há duas semanas é usar o equipamento e a equipe disponíveis em universidades federais públicas e laboratórios públicos.

Pelo menos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os laboratórios estão agora integrados e poderão processar o teste necessário se houver recursos suficientes disponíveis.

Luiz Carneiro: O Ministério da Saúde publicou recentemente um relatório que afirma que a epidemia de COVID-19 no Brasil atingirá o pico em abril ou maio deste ano e que o vírus continuará circulando até meados de setembro. Com base nos dados disponíveis, é possível fazer esse tipo de previsão no momento?

Dr. Renato Couto: A única certeza é que será uma jornada longa e difícil. A OMS diz que essa pandemia terá dois picos, mas que um terceiro pico também é possível. No entanto, a curva da epidemia brasileira vem se achatando se considerarmos a taxa de mortalidade positiva por COVID-19 por 100.000 habitantes. Há sete dias, a curva brasileira começou a divergir da da Itália.

Luiz Carneiro: Muitos estudos mostram que o número de casos de COVID-19 no mundo está subestimado. Sua empresa tem uma estimativa para a situação atual no Brasil? Você tem uma previsão para o cenário futuro?

Dr. Renato Couto: ninguém tem uma estimativa. Espero que a epidemia tenha uma curva achatada. Caso contrário, não teremos recursos suficientes no Brasil, nos setores público e privado. E se a curva se achatar, significa que será uma epidemia duradoura.

Luiz Carneiro: Qual é o cenário mais provável? Qual chegará primeiro, a vacina ou a imunidade do rebanho?

Dr. Renato Couto: A imunidade do rebanho chegará antes da vacina. E espero que a população brasileira adquira essa imunidade em uma jornada plana, na qual os recursos disponíveis não serão esgotados.

Luiz Carneiro: Mas e se houver um pico? O Brasil terá leitos e ventiladores hospitalares suficientes? Qual é o cenário nos setores público e privado?

Dr. Renato Couto: Teremos camas suficientes para pacientes não críticos, mas se houver um pico nesta epidemia, não haverá ventiladores suficientes no setor público ou no setor privado.

Em qualquer cenário, é vital gerenciar adequadamente o estoque de recursos necessários: ventiladores, máscaras de proteção N95, leitos de UTI, leitos que não são de UTI, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc. A escassez de qualquer um desses recursos afetará o suprimento adequado de ventilação mecânica para os pacientes.

Nosso grupo possui uma solução tecnológica para ajudar a resolver esse problema, gerenciando os recursos necessários. Estamos disponibilizando esta solução gratuitamente para instituições de saúde. Os interessados ​​podem obter mais informações no seguinte link:

Luiz Carneiro: Qual é a situação atual do distanciamento social no Brasil? A imprensa brasileira mostrou recentemente que muitas pessoas não seguem regras de distanciamento social, com um aumento de pessoas usando o transporte público.

Dr. Renato Couto: Temos duas forças contra o distanciamento social no Brasil. Pobreza e as falsas suposições que muitas pessoas têm sobre o coronavírus.

Em relação à pobreza, a falta de comida fará / está fazendo as pessoas se movimentarem. É necessário levar comida para as pessoas pobres na periferia da sociedade. O Congresso aprovou recentemente um pagamento mensal de R $ 600,00, que é uma medida correta.

Com relação às falsas suposições, a primeira é que o COVID-19 é apenas outra gripe, e a segunda é que existe uma droga adequada para curar o vírus: a cloroquina. Infelizmente, não se trata apenas de outra gripe, e a cloroquina é apenas uma hipótese fraca para a pesquisa. Estudos anteriores sobre a cloroquina como antivirótico foram uma falha total, como foi o caso da mononucleose.

Luiz Carneiro: Mas, segundo a imprensa brasileira, o Ministério da Saúde do Brasil não descartou o uso de cloroquina e promete ter uma "resposta segura" para este mês. Caso seja eficaz e seguro, seria uma solução viável salvar pacientes gravemente enfermos?

Dr. Renato Couto:  Temos apenas duas certezas: primeiro, a cloroquina tem efeitos colaterais graves, pode matar; segundo, não há nenhuma evidência de que seu uso seja benéfico. Trata-se de um experimento, aceitável apenas sob protocolos de pesquisa bem definidos e bem supervisionados.

Luiz Carneiro: Segundo a imprensa internacional, países mais pobres, como o Brasil, estão em desvantagem em comparação com os países mais ricos ao adquirir o material e o equipamento necessários para enfrentar a epidemia do COVID-19. Isso é verdade para o Brasil? Qual o cenário para o sistema de saúde brasileiro (público e privado)?

Dr. Renato Couto:  A falta de recursos críticos para enfrentar o COVID-19 é uma realidade global. Se não conseguirmos achatar a curva, teremos uma calamidade por causa da falta de recursos.

Luiz Carneiro é economista e membro do conselho da AUBRBC.

Este aviso informa aos leitores que as opiniões, pensamentos e opiniões expressas no texto da entrevista pertencem exclusivamente ao autor entrevistado, e não necessariamente ao entrevistador, à organização do Conselho de Negócios da Austrália no Brasil, ao comitê do organizador ou a outro grupo ou indivíduo.

Fonte: Australian Brazil Business Council

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