Introdução
A economia em saúde é um tema importante em um cenário onde a eficiência dos serviços de saúde é constantemente desafiada.
Um dos principais fatores que impactam negativamente essa economia são os eventos adversos hospitalares, que se referem a complicações indesejadas durante a assistência hospitalar.
Esses eventos, frequentemente preveníveis, não apenas aumentam os custos hospitalares, mas também comprometem a segurança do paciente e a qualidade do cuidado.
Neste artigo, exploraremos as implicações financeiras na economia em saúde e apresentaremos abordagens práticas para mitigar seus efeitos.
Desta maneira, é possível promover um sistema de saúde mais eficiente e sustentável.
O que são Eventos Adversos Hospitalares?
Eventos adversos hospitalares são condições clínicas ou complicações que se desenvolvem como resultado de falhas no processo assistencial durante a internação hospitalar.
Por exemplo, um paciente admitido para tratar uma pneumonia pode desenvolver uma infecção por cateter intravenoso durante o tratamento.
Essa infecção, não presente na admissão do paciente, é um evento adverso e uma complicação indesejada do processo de cuidado.
Ao contrário das complicações esperadas, que podem ser previstas com base na condição médica do paciente e no tratamento planejado, eventos adversos hospitalares são resultados inesperados.
Eles causam danos ao paciente e frequentemente podem ser evitados.
Por isso, a segurança do paciente é tão importante quando se pensa em prever esses eventos ao planejar a economia em saúde.
Impactos dos Eventos Adversos Hospitalares na Economia em Saúde
Na economia em saúde, os eventos adversos hospitalares causam impacto nos custos diretos e indiretos.
Como exemplo, tem-se as infecções hospitalares ou complicações cirúrgicas, que geram custos diretos significativos para o sistema de saúde.
Esses custos incluem tratamentos adicionais, prolongamento da internação e aumento das taxas de readmissão.
Além dos impactos imediatos na economia em saúde, eventos adversos hospitalares também acarretam custos indiretos, que se manifestam em consequências a longo prazo.
Esses efeitos podem incluir a perda de produtividade dos profissionais de saúde, o aumento do absenteísmo e um impacto negativo na reputação do hospital.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 10% dos pacientes hospitalizados sofrem algum tipo de evento adverso, e muitas dessas ocorrências são preveníveis.
Além disso, estudos indicam que entre 50% e 70% dos eventos adversos hospitalares podem ser evitados com abordagens sistemáticas e protocolos de segurança bem implementados.
No Brasil, pesquisas demonstram que a incidência de eventos adversos é significativa, onde as falhas preventivas contribuem para uma alta taxa de mortalidade e morbidade.
O Custo dos Eventos Adversos Hospitalares no sistema de saúde e na vida das pessoas
Os eventos adversos não só prolongam o tempo de internação e aumentam a necessidade de tratamentos adicionais.
Porém, eles também elevam os custos hospitalares de maneira significativa.
Por exemplo, infecções de corrente sanguínea associadas ao uso de cateter venoso central e pneumonias relacionadas à ventilação mecânica são condições adquiridas com alto custo adicional para os hospitais.
Portanto, cada caso de pneumonia associada à ventilação mecânica pode adicionar mais de 47 mil dólares aos custos hospitalares nos Estados Unidos, com uma taxa de mortalidade atribuível que torna esses eventos uma das principais preocupações para gestores e profissionais de saúde.
No Brasil, o impacto financeiro dos eventos adversos é igualmente preocupante. O estudo de 2018 “II Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil” estimou, a partir da base de dados da Plataforma Valor Saúde by DRG Brasil +IA, que os eventos adversos graves prolongam o tempo médio de internação hospitalar em mais de 10 dias e aumentam significativamente a mortalidade.
Além disso, esses eventos reduzem as margens operacionais dos hospitais e das operadoras, que enfrentam desafios adicionais para manter a sustentabilidade financeira em um ambiente de crescente pressão por eficiência e redução de custos na economia em saúde.
As consequências da insegurança do paciente vão além dos eventos adversos hospitalares e do aumento dos custos assistenciais.
Com isso, elas incluem morbidade e formas mais sutis de prejuízos ao paciente e à família, como a perda da dignidade e do respeito, sofrimento psíquico e quebra de confiança no sistema de saúde, no governo e nos profissionais de saúde.
Além disso, os profissionais de saúde também sofrem impactos psicológicos profundos, como raiva, culpa, sentimento de inadequação, depressão e até mesmo risco de suicídio, devido a falhas reais ou percebidas.
Ou seja, a iminente ameaça de ações legais pode agravar esses sentimentos, levando à perda de confiança na própria capacidade profissional.
Logo, o medo da punição faz com que muitos profissionais de saúde hesitem em relatar erros.
Portanto, a abordagem de culpar ou punir indivíduos por erros que frequentemente resultam de falhas sistêmicas não resolve as causas subjacentes e não impede a repetição desses erros.
Por isso, especialistas em segurança do paciente e formuladores de políticas estão cada vez mais focados em melhorar a segurança dos sistemas de saúde para reduzir a probabilidade de erros e mitigar seus efeitos, ao invés de se concentrar apenas em intervenções punitivas sobre um indivíduo.
Inclusive, as falhas devem ser vistas como oportunidades para mudanças construtivas na prestação de cuidados e na economia em saúde.
A visão maniqueísta que divide os envolvidos em culpados e vítimas é desprovida de base científica e contribui significativamente para o atraso na aplicação de conhecimentos que poderiam mitigar o problema.
Como resultado, vidas são perdidas, recursos são desperdiçados, e tanto as famílias quanto os profissionais de saúde sofrem, apesar dos esforços das empresas, instituições e governo.
Todos, incluindo pacientes e suas famílias, têm a responsabilidade de articular esforços e alocar recursos baseados na ciência para transformar a segurança do sistema de saúde brasileiro.
Abordagens para Melhorar a Segurança Assistencial
A redução de eventos adversos e a melhoria da segurança do paciente requerem uma abordagem multifacetada, que envolve a implementação de protocolos de segurança, treinamento contínuo de pessoal e a adoção de uma cultura organizacional que priorize a segurança e a melhoria da qualidade assistencial.
O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), instituído pelo Ministério da Saúde, é um exemplo de iniciativa que visa promover a segurança do paciente através de diretrizes claras e ações coordenadas nos hospitais.
O uso de pacotes de cuidado (bundles), uma abordagem estruturada que combina várias práticas baseadas em evidências para melhorar os resultados do paciente, tem mostrado eficácia na redução de eventos adversos.
Esses pacotes de cuidados são projetados para serem aplicados de forma consistente e rigorosa, garantindo que todas as etapas críticas para a segurança do paciente sejam seguidas.
Além disso, a aplicação de ferramentas de gestão de riscos, como a ISO 31000, fornece uma estrutura para identificar, analisar e mitigar riscos de segurança no ambiente hospitalar.
Segurança do Paciente é Prioridade na Economia em Saúde
A integração dessas práticas na rotina hospitalar é essencial para criar um ambiente mais seguro e eficaz para os pacientes e para a equipe e economia em saúde.
A segurança do paciente é um componente fundamental para a melhoria da qualidade assistencial e a sustentabilidade dos sistemas de saúde.
Reduzir os desperdícios assistenciais através da prevenção de eventos adversos não só melhora os resultados para os pacientes, mas também reduz os custos operacionais e melhora a eficiência hospitalar.
Implementar práticas baseadas em evidências, fortalecer a cultura de segurança e utilizar ferramentas de gestão de riscos são passos essenciais para alcançar um cuidado de saúde mais seguro e eficaz.
Para maximizar a eficácia da gestão de riscos e melhorar a segurança assistencial, é fundamental adotar uma abordagem integrada que envolva todos os stakeholders.
Com isso, é preciso envolver desde líderes governamentais até profissionais de saúde e pacientes.
As diretrizes para construir um sistema de saúde mais seguro incluem:
- Estabelecimento de uma Cultura de Segurança Não Punitiva: Os líderes devem fomentar uma cultura onde as falhas são vistas como oportunidades de aprendizado e melhoria, promovendo um ambiente de trabalho que priorize a segurança do paciente.
- Qualificação da Rede Hospitalar: É essencial melhorar a infraestrutura e os processos hospitalares, garantindo que todos os hospitais tenham condições adequadas para fornecer cuidados de alta qualidade.
- Mudança do Modelo de Pagamento: Incentivar modelos que recompensem a qualidade e a segurança em vez da quantidade de serviços prestados.
- Transparência e Acesso à Informação: Melhorar o acesso dos usuários às informações sobre a qualidade e os resultados assistenciais dos hospitais, promovendo uma escolha informada e consciente dos serviços de saúde
Convidamos você a conhecer mais sobre a segurança do paciente e a redução de desperdícios em saúde. Clique aqui e leia mais no Blog Valor em Saúde e conheça os 4 alvos assistenciais.
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