Covid19

Novas oportunidades de negócio em saúde para um novo tempo

DRG Brasil
Postado em 17 de julho de 2020 - Atualizado em 28 de setembro de 2023

Em parceria com a Deloitte, DRG Brasil Convida recebeu experientes executivos de saúde para análise do sistema de saúde durante e pós-pandemia.

Neste programa, o médico infectologista e presidente do Grupo IAG Saúde, Renato Couto recebeu o gerente de projetos da Care Plus, Rafael Gonzales e o diretor financeiro do Hospital São Camilo, Romeu Freitas, para discussão. Além de Couto, o sócio de Life Sciences & Health Care da Deloitte, Luís Fernando Joaquim, também conduziu a conversa.

Qual o futuro dos negócios na saúde e o que podemos esperar do sistema de saúde brasileiro pós Covid-19? E quais as oportunidades teremos neste cenário de crise? Esses são os temas do debate com os convidados. Acompanhe.

Joaquim: Como destacado, toda e qualquer crise apresenta oportunidades. A Covid-19 trouxe um repensar em vários aspectos da saúde do Brasil e de outros negócios. Percebemos uma movimentação em torno do teletrabalho e, na saúde, não seria diferente.

Renato: Rafael, fale para a gente o que vocês têm visto como oportunidade e como estão se preparando para o futuro. E de que forma precisam da prestação de serviços hospitalares para que de fato tenham uma cadeia produtiva que entregue valor aos pacientes?

Rafael: A Care Plus é parte da BUPA, grupo internacional britânico de provisionamento e assistência médica e, atualmente, a operadora mais globalizada do mundo. Isso permitiu que no pré Covid-19 pudéssemos nos preparar e isso tem nos dado aqui no Brasil a possibilidade de enxergar o que está acontecendo lá fora para que possamos acertar nossos movimentos, além de aproveitar as oportunidades para não cair nos riscos.


O que vimos durante a Covid-19 e que ainda estamos passando: queda da sinistralidade que no primeiro momento é positivo para as operadoras e isso foi visto por todos, sendo um ponto negativo para os nossos parceiros hospitalares. Em relação as oportunidades, o que temos visto é a teleconsulta, que se bem aproveitada, pode ser utilizada como um premier care, onde você consegue fazer um direcionamento do seu paciente, contribuindo para a melhor gestão em saúde.

Renato: Romeu, o que você tem visto de oportunidade na sua área?

Romeu: A Covid-19 tem sido algo singular, algo que não se encontra nos livros, sem nenhuma referência em como lidar com este momento. Trouxe uma dinâmica diferente, tudo muito novo e rápido, e, naturalmente, aquelas instituições que são mais sensíveis conseguem responder mais rápido ao contexto. Os hospitais de forma direta foram os mais impactados. Tivemos uma mudança drástica no perfil do paciente, seu perfil de consumo, comportamento, e todos esses fatores vêm afetando os custos como bem colocado pelos meios de comunicação. Mas a grande pergunta que fica é: como será a relação entre sociedade, planos de saúde e hospitais?


Chegamos a níveis mínimos de atendimento nas emergências no período do Covid-19 – e algumas perguntas que precisam ser respondidas é se as pessoas terão receio em voltar a uma emergência de hospital para procurar assistência médica? Existe uma preocupação técnica muito grande por trás dessas questões – inclusive, já se fala em indicadores de aumento de mortalidade em domicílio.

Renato: Joaquim, a Delloitte é muito bem posicionada nesta visão global e, no Brasil, ela possui uma capilaridade nacional muito interessante. O que vocês estão percebendo de mudanças possíveis com a pandemia?

Joaquim: Este é um tema que temos buscado cada vez mais discutir e rediscutir. A pandemia fez com que a Deloitte agisse e reagisse de maneira diferenciada, e não só na área da saúde, mas em todos os outros negócios. A empresa tem buscado mais formas de inovação, a começar pela força de trabalho: utilização de novas tecnologias e o trabalho remoto. Quando a gente olha a questão do home office que é uma das grandes mudanças impulsionadas por esse momento global, percebemos a sua importância e trabalhamos arduamente para adaptar sete mil colaboradores com seus desktops em casa e produzindo até mais do que produziam. O teletrabalho e a telemedicina na saúde são novos modelos de negócios – e não há o que negar. A telemedicina permite o monitoramento de pacientes com doenças crônicas - sendo a tecnologia de suma importância para apoio.

Renato:  Você tocou em um aspecto muito interessante. Parte dos processos vão ser feitos à distância e será preciso uma reorganização de processos para a governança empresarial e corporativa de forma assertiva. Sobre remuneração, como podemos simplificar a implantação do modelo orçamentário sem aumentar a complexidade, contribuindo para a aceitação da rede prestadora? Deixo a pergunta para o Romeu.

Romeu: Essa discussão sobre remuneração é recente na nossa área. Eu participei de várias tentativas de transição de modelos remuneratórios e vejo que o grande obstáculo, independentemente de ser o modelo de orçamento, é o custo da desconfiança. Nós temos dificuldade de fazer um modelo onde a relação de confiança e a relação de transparência seja mútua.


Acho que tanto os hospitais quanto as operadoras gostariam e querem sair do modelo fee for service. Ele não é um modelo que auxilia no dia a dia, a ter uma boa transparência. Por outro lado, onde a balança vai pesar mais é muito difícil. Nós tivemos alguns avanços nisso, acredito que com a Covid-19, isso tende a ganhar uma força maior. Mas, eu ainda tenho um pé atrás de que esse é o custo final que precisava para mudar o modelo de remuneração. Nesse sentido o tema é muito complexo, a operadora tem o perfil muito diferente do hospital, por exemplo. Mas, acredito que nós vamos avançar. Vai ter sim um engajamento maior e de ambas as partes.

Renato: Quem sabe um sistema de estímulo econômico um fee for service bonificado com o compartilhamento de resultados. Você aceitaria Romeu?

Romeu: A pandemia trouxe uma visão de risco um pouco diferente.

E o risco nesse cenário acabou ficando aqui e estrangulou fortemente os hospitais – um bom exemplo: os custos de EPIs crescendo de forma absurda. Nesse momento, a gente vem sofrendo muito com os anestésicos que estão em falta no mercado. Naturalmente Dr. Renato, acho que tem que ter uma discussão do modelo híbrido. Acredito que não vamos chegar no modelo único e, sim, em um modelo híbrido. O caminho é longo, mas nós temos condição de visitar e sair do hospital como centro da saúde e voltar para medicina básica, a medicina da família e tradicional - com certeza é bem menos custosa para todo mundo, além de entregar muito mais valor para todas as pontas.

Renato: O que vocês colocariam para as pessoas que estão assistindo a live, para que elas investissem e se dedicassem? Sejam eles gestores, executivos de operadoras e hospitais. Se fossem sugerir uma diretriz de negócio, qual seria o conselho de vocês?

Joaquim: Essa é uma boa pergunta! O universo da saúde ainda é artesanal, portanto, é preciso trazer a tecnologia para melhorar os processos. Não faz sentido pensar, por exemplo, em um laboratório com uma longa sala de espera sendo que existe a possibilidade da coleta domiciliar, mesmo pós-pandemia. É o cenário atual. Não faz sentido também as operadoras conversarem com seus clientes por meio de formulários preenchidos de forma manual, considerando que vivemos a transformação digital no mundo inteiro. O Brasil é o segundo país que mais passa tempo na internet – dessa forma, faz muito mais sentido que as operadoras estejam dentro dos canais digitais como Facebook e Instagram. Que eles ofereçam esse conforto e comodidade para os clientes. Essa sim, é uma grande oportunidade de inserir a tecnologia no processo da experiência do usuário como um todo, do início ao fim do tratamento.

Rafael: Mesmo presente, a tecnologia se consolidou ainda mais durante a pandemia. O ponto que o Joaquim trouxe sobre a coleta domiciliar vai crescer e veio para ficar. A questão do monitoramento do paciente para todas as operadoras vem para atualizar o modelo de governança: precisa ser digital e, ao mesmo tempo, o paciente precisa se sentir acolhido pela operadora, porque no momento de dor, no momento que você precisa, você não quer conversar com chat box, você quer conversar com uma pessoa. Então a inteligência da operadora deve estar por trás para entender que naquele momento ela precisa de um profissional da saúde para conversar com ela. Mas sim, a questão de monitoramento do paciente veio para ficar e cada vez mais vai se consolidará. Um último ponto que eu colocaria é a questão de modelos de remuneração. Durante muito tempo, a operadora viveu sob riscos de um paciente entrar em um hospital e a operadora não saber essa conta.


Hoje, o hospital vive esse dilema de não ter o paciente. Creio que a questão de investir em novos modelos de remuneração é algo que certamente vai estar na pauta de muitos hospitais. E sim, precisamos quebrar essa desconfiança que o Romeu colocou. O mercado como um todo sabe o que é preciso, mas um desconfia do outro e ninguém avança. Espero que a pandemia faça com que todos os players, enxergue o que ele pode gerar de valor para a cadeia de saúde. Nós temos uma cadeia de saúde extremamente custosa, não fazemos o bom uso das tecnologias como um todo e isso gera desperdícios.  Não somente nos gastos hospitalares, mas com os gastos totais. Se a gente tiver um monitoramento tecnológico desses desperdícios, proporcionar informação de qualidade para o paciente, ele pode decidir e parar esse desperdício.

Romeu: Entendo que agora é o período de enfrentar um mar de oportunidades. Oportunidades para aqueles que pensam fora da caixa, que executam diferente, que vão ter a capacidade de se modificar e se adaptar a esse novo cenário. Acho que muitas empresas vão surgir, e vão trazer modelos diferenciados, que agregam muito mais valor a expectativa do cliente final que é o paciente. Acredito que a medicina verticalizada vai ganhar muita força nisso. A gente vê que no momento de crise as operadoras verticalizadas e hospitais verticalizados, são os que sofrem o menor impacto. Volto na minha fala no início da live: aqueles que são mais flexíveis, dispostos a mudanças e a incorporarem a tecnologia no dia a dia da sua instituição, estarão um passo à frente das oportunidades.

Fique por dentro de mais conteúdos como esse! Acesse a transcrição das lives anteriores:

Posts Relacionados

Estudo comprova eficiência de sistema de saúde baseado em valor

Covid19
4 de fevereiro de 2022
leia agora

Estudo do SUS de MG, em parceria com a UFMG, analisa eventos adversos pós-vacinação contra COVID-19 e recomenda: confiem nas vacinas!

Covid19
24 de setembro de 2021
leia agora

Fábio Gastal avalia o enfrentamento da Covid-19 pelo sistema de saúde brasileiro

Covid19
24 de agosto de 2021
leia agora
QMS Certification

Creative Commons

Direitos autorais: CC BY-NC-SA
Permite o compartilhamento e a criação de obras derivadas. Proíbe a edição e o uso comercial. É obrigatória a citação do autor da obra original.


(31) 3241-6520 | grupoiagsaude@grupoiagsaude.com.br

Creative Commons

Direitos autorais: CC BY-NC-SA
Permite o compartilhamento e a criação de obras derivadas. Proíbe a edição e o uso comercial. É obrigatória a citação do autor da obra original.

Os Termos de Uso e a Política de Privacidade deste site foram atualizados em 05 de abril de 2021. Acesse:
© ‎Grupo IAG Saúde® e DRG Brasil ® - Todos os direitos são reservados.
Logo Ingage Digital