As condições de nascimento influenciam diretamente na adaptação e evolução da vida pós-natal. Tem sido demonstrado, na literatura, o crescente e significativo aumento de nascimentos prematuros, sendo que o peso ao nascimento e a idade gestacional são os principais marcadores de gravidade na população neonatal.
Este cenário motivou a realização de um estudo inédito, publicado na Revista Mineira de Enfermagem (REME). Os pesquisadores Marina Lima, Thales Silva, Lorena Mateus, Juliana Marcatto, Ariene do Carmo, Ana Cláudia Abreu, Renato Couto, Tania Pedrosa e Fernanda Matozinhos analisaram os fatores impactantes na permanência hospitalar de recém-nascidos prematuros. A finalidade do trabalho foi elaborar um modelo que considerasse as particularidades de diversos grupos de peso ao nascer, com diferentes morbidades e problemas associados, e seu impacto no tempo de internação.
Neste escopo, a utilização da metodologia DRG Brasil contribuiu substancialmente para a previsão de recursos pelos hospitais, já que é considerada uma plataforma precisa para a tomada de decisão.
O objetivo do estudo divulgado pela REME foi verificar a associação entre peso ao nascer, idade gestacional e diagnósticos médicos secundários no tempo de permanência hospitalar de recém-nascidos prematuros.
Entre as 130 milhões de crianças nascidas a cada ano, aproximadamente quatro milhões morrem nas primeiras quatro semanas de vida. Atrelado a isso, tem sido demonstrado o crescente e significativo aumento de nascimentos prematuros. Em 2014, por exemplo, a taxa global de nascimento prematuro foi de 10,6%. O Observatório da Prematuridade reportou que, apenas no Brasil, os partos prematuros representaram 11,8% do total de partos registrados em 2021.
O recém-nascido (RN) recebe uma classificação baseada em sua idade gestacional (IG), peso ao nascer (PN) e relação entre a IG e o PN. É considerado como prematuro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) todo nascimento anterior a 37 semanas de IG.
Em entrevista ao Blog Valor em Saúde, a enfermeira pesquisadora Fernanda Penido Matozinhos definiu alguns conceitos importantes para entendermos melhor as bases do estudo, do qual foi coautora. São eles:
De acordo com especialistas, quanto menores forem a IG e o PN maiores serão a complexidade da demanda assistencial e o aumento do consumo de recursos e custos hospitalares neonatais – assim como o risco de óbito durante o período neonatal.
Além disso, segundo os autores, a condições de nascimento influenciam diretamente na adaptação e evolução da vida pós-natal. O período neonatal é um momento considerado de grande vulnerabilidade na vida do RN, por riscos biológicos, ambientais, sociais e culturais.
A prematuridade e o baixo peso ao nascer são um problema de saúde relevante em decorrência das repercussões imediatas e tardias observadas, não apenas na vida dos indivíduos afetados, mas também nas suas famílias e no grupo social responsável pela organização das redes de atenção à saúde. É por isso que o desenvolvimento de ferramentas que possibilitem prever a permanência de neonatos prematuros em unidades de cuidados progressivos neonatais se mostra de extrema importância.
Os pesquisadores realizaram um estudo transversal, com 1.329 prontuários de recém-nascidos no período de julho de 2012 a setembro de 2015, em dois hospitais de Belo Horizonte, que utilizam a metodologia de Grupos de Diagnósticos Relacionados da plataforma DRG Brasil.
A categorização de pacientes em grupos homogêneos de acordo com as suas características e complexidade assistencial é proposta pela metodologia de Grupos de Diagnósticos Relacionados, sendo aplicável a pacientes internados em hospitais que atendem casos agudos. O DRG representa um importante recurso para a geração de dados que contribuem para a reorganização do cuidado ao recém-nascido.
A metodologia DRG tem sido utilizada por diversos países por fornecer informações consistentes sobre fatores relacionados a peculiaridades assistenciais e ao período de permanência do paciente na instituição de saúde, contribuindo para a previsão de recursos pelos hospitais, sendo considerada uma ferramenta marcante para a tomada de decisão assertiva.
Com a plataforma DRG Brasil, totalmente adaptada ao perfil do sistema de saúde e da população brasileira, os desfechos assistenciais e consumo de recursos tornam-se comparáveis e previsíveis, uma vez que os pacientes agrupados em um mesmo DRG possuem características clínicas e de risco similares, determinando uso de recursos – tempo de permanência e consumo de insumos – também similares.
A cada neonato foi atribuído um DRG, considerando, como primeiros requisitos dos algoritmos, o peso ao nascimento (PN) e a idade gestacional (IG). “Estas duas variáveis são os principais marcadores de gravidade na população neonatal”, explica Fernanda Matozinhos. Neste estudo, foram analisados seis DRG que compuseram a grande categoria diagnóstica (MDC) de RN e neonatos com condições originadas no período perinatal (MDC 15).
A análise do período de internação sugeriu relação com o perfil demográfico, complicações prevalentes e o percurso da população atendida durante a internação, além de constituir um importante indicador para a qualidade e o custo dos cuidados de saúde.
Veja quais foram os principais achados do estudo:
A pergunta é: a partir dos resultados obtidos com a pesquisa, o que foi possível concluir? “Reduzir o tempo de permanência hospitalar e a carga de morbidade e mortalidade neonatal contribui para otimizar o uso de recursos hospitalares e para a melhoria da qualidade dos atendimentos e da segurança dos pacientes”, explica Fernanda. “Além disso, a introdução de ferramentas de gestão da estimativa da permanência hospitalar de neonatos prematuros, como a metodologia DRG, pode contribuir para a melhor compreensão das necessidades de saúde dos pacientes e suas famílias e elaboração de estratégias assistenciais”, completa.
Como recomendações para a comunidade de acadêmicos, profissionais de saúde e gestores, a enfermeira pesquisadora lista os seguintes pontos:
Os achados deste trabalho poderão direcionar a assistência em relação à mobilização de recursos físicos, humanos e de bens de consumo, além da análise crítica de condições que influenciam os desfechos clínicos.
A possibilidade da otimização do uso desses recursos hospitalares, aliada à melhoria da qualidade dos atendimentos e da segurança dos pacientes, está associada à minimização do tempo de permanência hospitalar e da carga de morbidade e mortalidade neonatal.
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Fernanda Penido Matozinhos é enfermeira, com Mestrado e Doutorado em Saúde e Enfermagem, pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2016, assumiu o concurso para professor Adjunto na UFMG. Sua inserção na pós-graduação também ocorreu em 2016, como orientadora plena, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFMG.
Suas atividades de pesquisa têm se concentrado em duas áreas: Vacinação e Epidemiologia de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, consumo de recursos, segurança da assistência e seus possíveis determinantes. A primeira linha objetiva estudar os aspectos ambientais, epidemiológicos e clínicos da vacinação em crianças, adolescentes, gestantes e idosos, contemplando estudos que incluem o uso de bases de dados nacionais e internacionais e investigam a associação entre as variáveis em análises bivariadas, estratificadas e em modelos multivariados.
Atua como membro da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras e como colaboradora do Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Epidemiologia, ambos da UFMG. No âmbito dessa atuação, oficializou um acordo de cooperação acadêmica com a Unidade Local de Saúde de Matosinhos, em Portugal.
Essas parcerias nacionais e internacionais, além de fortalecer sua experiência em atividades de gestão acadêmica e científica, incluindo a gestão de projetos financiados em editais de fomento, possibilitam-na aprimorar o debate intelectual, científico e social sobre a vacinação nos diferentes ciclos de vida e a importância de oferecer informações epidemiológicas para o aprimoramento de políticas de saúde pública capazes de melhorar a taxa de vacinação, por meio da identificação de grupos específicos da população que necessitam de maior atenção por parte do Estado e dos profissionais de saúde.
Direitos autorais: CC BY-NC-SA
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