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De onde virão os recursos para a qualidade e sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro?

DRG Brasil
Postado em 22 de julho de 2020 - Atualizado em 28 de setembro de 2023

Utilizada de maneira exitosa em inúmeros países como instrumento de gestão e qualificação hospitalar, a metodologia DRG ainda causa no Brasil dúvidas e contrassensos entre gestores do sistema de saúde. Nesse artigo respondemos às perguntas mais frequentes quando essas três letrinhas vêm à tona. Confira!

Apesar de ampla e longamente utilizada de maneira exitosa em inúmeros países, como instrumento de gestão e qualificação da produção hospitalar, a metodologia do Grupo de Diagnósticos Relacionados ainda é pouco conhecida no Brasil. Este desconhecimento contribui para a construção de falsos paradigmas entre gestores do sistema de saúde como, por exemplo, de afirmativas infundadas da impossibilidade de o País adotar o DRG ou, ainda pior, alegações de que a metodologia pode ser prejudicial a componentes do sistema de saúde. Estas colocações são fruto não apenas do desconhecimento, como também do temor de mudanças.

Neste artigo vamos abordar o porquê utilizar a metodologia DRG no Brasil, e que ações transformadoras para a sustentabilidade do nosso sistema de saúde podem ser construídas a partir dela. Vamos responder às seguintes perguntas que são as que mais frequentemente surgem quando o tema DRG vem à mesa:

• O que é DRG?
• Como se define o DRG de um paciente?
• Por que a maioria dos países do mundo usa o DRG?
• Como o DRG transforma a relação entre médicos, operadoras e hospitais?
• Por que usar o DRG no Brasil?
• De onde virão os recursos para a qualidade e sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro?
• O que é a plataforma de valor em saúde DRG Brasil®?

Nossa equipe tem trabalhado e estudado a metodologia DRG há 14 anos e implantado o método no Brasil nos últimos oito anos. Nesse período, foram centenas de treinamentos, palestras para médicos e demais profissionais de saúde, gestores de sistemas de saúde e hospitais públicos, privados e filantrópicos em todas as regiões do Brasil, nos grandes e pequenos centros.

A pergunta que mais temos escutado ao longo desses anos é: “de onde virão os recursos para a qualidade e sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro?”.

É nossa missão neste artigo mostrar a resposta. Vem com a gente!

O que é DRG?

DRG - Grupo de Diagnósticos Relacionados (Diagnosis Related Groups) - é um método que mede e categoriza a complexidade e criticidade assistencial de cada paciente internado em um hospital que atende pacientes agudos.  A complexidade e criticidade são determinadas pela combinação de idade, diagnósticos principal e secundários e procedimentos realizados para o seu tratamento. Tendo o DRG mensurado e alocado o paciente em uma categoria de complexidade e criticidade, é possível comparar o desempenho, assistencial e econômico, de médicos e hospitais dentro de uma mesma categoria DRG.

Para cada categoria de complexidade e criticidade assistencial DRG, espera-se um determinado consumo de recursos (diárias, materiais, medicamentos, exames etc.) e um resultado assistencial. O DRG é o “medidor” mundial de complexidade e severidade de pacientes agudamente enfermos internados.

Como se define o DRG de um paciente?

A complexidade/severidade de cada tipo de paciente varia em função da idade, tipo de doença e tipo de procedimento cirúrgico a que ele foi submetido. O objetivo do DRG é colocar pacientes com complexidades/severidades similares em um mesmo grupo (grupos de diagnósticos relacionados) ou categoria. Os pacientes, agudamente enfermos, que se internam em hospitais têm idades que variam de horas a mais de cem anos. Além disso, há no Brasil mais de 10.000 códigos de saúde (Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde - CID 10, na versão 2008, no momento da elaboração deste artigo) para especificar determinada doença ou condição de saúde e mais de 8.000 tipos diferentes de procedimentos cirúrgicos.

Para combinar todo este enorme volume de informações e atribuir o paciente a uma das 800 a 1.300 categorias de complexidade/severidade similares existentes é necessário valer-se de processamento computacional de um software. Não é possível realizar estas combinações manualmente. Temos que abastecer este software com os códigos de saúde e procedimentos, e estas informações devem refletir de fato as condições do paciente assistido.

Em todo o mundo, para identificar corretamente a idade, todos os diagnósticos e procedimentos realizados durante a internação de um paciente, garantindo a qualidade da informação assistencial a ser utilizada, é necessário a leitura completa do prontuário e a transformação das informações descritas nos textos e exames complementares do paciente em códigos de saúde e procedimento (CID, TUSS, SUS) que é a linguagem que o software mais facilmente “entende” (terminologias). Para esta atividade existe uma profissão, reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), denominada Medical Records and Health Information Technicians, que denominamos no Brasil como “Analista de Informação em Saúde”.

O Analista de Informação em Saúde é um profissional crítico para o sucesso da transformação do sistema de saúde brasileiro, pois decisões qualificadas nascem de informações qualificadas.

Tendo um paciente sido atribuído a uma categoria DRG de determinada complexidade e severidade, podemos fazer comparações econômicas e assistenciais com outros hospitais e médicos que atendam pacientes da mesma categoria.

Por que a maioria dos países do mundo usa o DRG?

“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende e não há sucesso no que não se gerencia”.

W. E. Deming (1900-1993)

A frase de Deming é a resposta completa. Não havia como medir resultados da assistência, pois não medíamos a complexidade dos pacientes assistidos, sendo impossível realizarmos comparações corretas de desempenhos econômicos e assistenciais. Com esta metodologia, podemos finalmente gerenciar a produção assistencial. A sustentabilidade nasce da gestão que garante melhoria de resultados assistenciais e controle dos desperdícios.

A metodologia DRG é considerada a inovação de maior influência no financiamento de saúde no pós-guerra e ao DRG é atribuído ter evitado o colapso econômico do sistema de saúde americano, tendo conseguido minimizar os custos crescentes em saúde nos EUA a partir dos anos de 1980. Esta transformação gerencial da assistência hospitalar gera resultados e por isto seu uso se disseminou no mundo.

Como o DRG transforma a relação entre médicos, operadoras e hospitais?

(Imagem: Freepik)

Vamos a um exemplo corriqueiro do uso do DRG na vida da operadora do sistema de saúde brasileiro, do gestor do hospital e do profissional médico.

Estamos no “Hospital DRG”. Ele encontra-se no Brasil, tem 100 leitos e realiza 400 internações por mês. Sua principal fonte pagadora é a operadora “O”.  Internou-se no Hospital DRG um paciente com pneumonia e foi tratado pela Dra. X, que pertence ao corpo clínico do Hospital DRG. Após a conclusão do tratamento e alta do paciente, a conta hospitalar é avaliada pela operadora O, que considera que os custos são excessivos. Esse achado é comunicado ao Hospital DRG e à Dra. X, que imediatamente retrucam: “Como é possível avaliar se há excesso de custos no tratamento? Tratei um paciente com pneumonia e não uma pneumonia! Este é um paciente de 70 anos, é mais “complexo!”.

A verdade pode estar com qualquer uma das partes. O instrumento usado no Brasil para a solução de dissensos de custos e qualidade assistencial é a força das partes. Dependendo do mercado da saúde suplementar ou em qualquer hospital do SUS, o comprador é o mais “forte”, e simplesmente não pagaria os custos que considera excessivos do Hospital DRG e da Dra. X. Em alguns mercados brasileiros da saúde suplementar, a força pode estar com o hospital ou o médico, e a operadora terá que pagar o que foi cobrado pelo Hospital DRG e pela Dra. X, mesmo que não considere correto. Para saber se custos e resultados assistenciais estão adequados, não basta saber o problema do paciente que determinou sua internação. É necessário saber a complexidade do paciente assistido. Não é possível comparar o custo de uma pneumonia tratada em um paciente de 20 anos com o custo de uma pneumonia tratada em um paciente de 70 anos!

Vamos melhorar mais ainda a comparação. A operadora O compara os custos de tratamento da pneumonia de um paciente de 70 anos com insuficiência cardíaca e insuficiência renal do Hospital DRG e da Dra. X com outro paciente de 70 anos, com as mesmas comorbidades, tratado em outro hospital por outro médico. Realizada a comparação, a operadora O constata que os custos se mostraram novamente excessivos e comunica ao hospital DRG e à Dra. X: “seus custos de tratamento de pneumonia em pacientes idosos e com outros problemas de saúde graves encontra-se além do esperado”. Novamente o Hospital DRG e a Dra. X retrucam: “Como é possível avaliar se há excesso de custos no tratamento? Este é um paciente “complexo”. Além de ser idoso, possui patologias associadas graves. Ele é acometido por insuficiência cardíaca e insuficiência renal! Teve como complicação de sua pneumonia um empiema (acúmulo de pus na pleura) e foi necessário realizar drenagem torácica, mantida por 5 dias! Fizemos um procedimento cirúrgico. A verdade, novamente, pode estar com qualquer uma das partes. Para termos uma medida mais precisa da complexidade assistencial, devemos associar idade, a doença que motivou a internação, todos os outros problemas de saúde que o paciente possuía antes de se internar e os procedimento cirúrgicos realizados na internação. O DRG foi criado!

Para fazer funcionar os modelos estatísticos e algoritmos, é necessário o processamento computacional de um software. Pronto: agora sim temos um verdadeiro “medidor” de complexidade e severidade de pacientes internados.

Dessa forma, médico, operadora e hospitais conseguem ter uma conversa racional sobre custos e resultados assistenciais. Podem comparar e discutir esses dois desfechos sabendo que estão comparando pacientes da mesma complexidade. Podem, com trabalho colaborativo e integrado, melhorar os resultados medidos dentro do hospital, mas que são reflexo do trabalho de todas as partes.

Essa é a real entrega de valor em saúde.

Por que usar o DRG no Brasil?

Para transformar o sistema de saúde brasileiro e a vida das pessoas, garantindo sustentabilidade através da qualidade assistencial e da entrega de valor. Nenhuma intervenção no sistema de saúde deve ter um alvo diferente deste.

O DRG muda rapidamente o modelo assistencial e remuneratório do sistema de saúde do Brasil criando as condições para transformar o sistema de saúde pela entrega de valor (valor = desfechos assistenciais / custos da assistência).

Ao controlar o desperdício determinado pelas disfunções da qualidade assistencial disponibilizando recursos para aumentar os ganhos econômicos de médicos, hospitais e operadores (SUS, saúde suplementar), a metodologia consegue aumentar o acesso ao cidadão pela redução dos custos da saúde.

De onde virão os recursos para a sustentabilidade e melhoria da qualidade do sistema de saúde brasileiro?

(Imagem: Freepik / Grupo IAG Saúde)

Aproximadamente 45% da conta hospitalar no Brasil é desperdício gerenciável. Tanto no SUS quanto na saúde suplementar há disfunções de qualidade com desperdícios do sistema de saúde que podem ser mensurados pelo DRG nas internações hospitalares e que podem ser controlados.

A comunidade acadêmica DRG Brasil®, que conta com pesquisadores da UFMG, UFOP, USP, UNICAMP, INSPER e muitas outras universidades brasileiras, vem estudando as oportunidades econômicas e assistenciais na base nacional da plataforma.

Os estudos dos dados identificam 4 oportunidades de melhoria assistencial no sistema de saúde, fontes de enorme desperdício econômico. Tratamos estas oportunidades como os alvos de intervenção no sistema de saúde brasileiro a partir do DRG que vão garantir recursos para a sustentabilidade:

Alvo assistencial 1: uso eficiente do leito hospitalar

Alvo assistencial 2: aumento da segurança assistencial

Alvo assistencial 3: redução de internações evitáveis

Alvo assistencial 4: diminuição de readmissões preveníveis

Os usuários do sistema de saúde brasileiro têm experimentado a disfunção da qualidade assistencial com sofrimento, sequelas e mortes. Essas consequências propagam o desalento entre os profissionais e os gestores da saúde. Afinal, é um sistema no qual todos saem perdendo.

Enxergamos essas falhas na entrega de valor como oportunidades de melhoria assistencial, com objetivo de gerar a sustentabilidade do sistema de saúde e entregar valor ao paciente.

O que é a plataforma de valor em saúde DRG Brasil®?

A plataforma DRG Brasil® desenvolvida pelo Grupo IAG Saúde é muito mais do que um agrupador de diagnósticos homogêneos de pacientes internados.

Em oito anos de aplicação, a abrangência da metodologia DRG cresceu exponencialmente, e fez com que o DRG Brasil® se tornasse uma plataforma de governança clínica e entrega de valor em saúde.

Isso significa que, com ela, é possível melhorar a qualidade assistencial, controlar desperdícios e viabilizar a sustentabilidade econômica das organizações.

O DRG Brasil® transforma dados em informações para uma tomada de decisão acertada e precisa. A plataforma é integralmente desenvolvida para o contexto brasileiro e tem como vetores principais:

  • estruturação dos sistemas de atenção à saúde em redes de atenção;
  • assistência contínua ao paciente, com integração de informações e processos;
  • coordenação do cuidado pela cooperação ativa entre instituições e médicos;
  • personalização dos cuidados para atender às necessidades do paciente;
  • compartilhamento do conhecimento e fluidez da informação. Os pacientes devem ver seus dados de forma irrestrita. Ao mesmo tempo, a comunicação com os médicos deve ser eficaz;
  • tomadas de decisões assistenciais com base em evidências científicas para haver padronização;
  • priorização da segurança para proteger os pacientes de eventos adversos evitáveis;
  • transparência de informações para facilitar a escolha livre e consciente do plano de saúde, do tratamento e do hospital;
  • adiantamento das necessidades do paciente em vez de a disfunções;
  • redução dos desperdícios de recursos e de tempo;
  • estímulo à entrega de valor pelo modelo remuneratório.

Como fica claro, o DRG Brasil® é uma plataforma completa e em constante evolução, que preza pela entrega de resultados genuínos, especialmente no que se refere à governança dos sistemas de saúde com centralidade no paciente.


Saiba mais sobre a mensuração e as diretrizes para a entrega de valor em saúde no Brasil, acessando nossos e-books gratuitos:

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